segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Desabafo

Eu não gosto de romantismo. Apenas gosto de flores. Eu não gosto que me liguem de cinco em cinco minutos para saber o que estou fazendo. Ciúmes não é fofo. Se me ligarem as 4h da manhã para contarem que sonharam comigo, ou que me amam, eu vou ficar brava. Ser importante demais para alguém me sufoca, me dá medo. Eu acho que sou fria demais. Palavras carinhosas são apenas palavras. Falar comigo no diminuitivo não vai me fazer ficar feliz. Outra coisa que enche o saco é drama, teatrinho.  Mas não fui sempre assim. Já amei. Já escolhi o nome dos meus filhos com alguém. Mas acabou o encanto. Não sei se a culpa foi minha, ou dele, ou se alguém teve realmente culpa. Éramos tão jovens para lidar com o amor. Mas espero que um dia eu mude. Que eu ame. Mas queria alguém do meu lado  não como meu namorado, meu amante. Sim como meu amigo. Companheiro. Fazermos quase tudo juntos, livres. Sem precisar tratar um ao outro como babacas. Apenas estar juntos. Sem cobranças. Sem dívidas. Sem dúvidas. Sem regras, apenas amor.

domingo, 30 de outubro de 2011

Quem eu fui na noite passada

Meu nome é Bárbara. Eu gosto de suco de laranja e não gosto de falar sobre mim. Na verdade, eu nem existo. Me inventaram.
Ultimamente tenho mais bebido que vivido, mas isso pouco importa. Para mim beber é viver. Pelo menos foi assim.
Vou contar a minha história, mesmo sabendo que ninguém vá ler ou se importar, enquanto queimo o último dos meus cigarros como se queimasse também o meu coração.
Eu já amei de verdade, e talvez ainda ame. O nome dele é Miguel. Ele não é aquele cara que chame atenção na multidão, por sua beleza, apesar de acreditar que chame. Mas a mim, me chama atenção por sua inteligência e seu caráter.
Acredito que a beleza só importa para quem está do lado de fora para te julgar, mas como virginiana me importo com isso.
Talvez as nossas personalidades tenham nos feito desistir e não dar certo. Me feito desistir, pois ele queria lutar até o fim. Mas me pergunto: lutar até onde? Até estarmos esgotados e vivenciando nossos dias da mesma maneira que vivenciamos há alguns meses? Como se não estivéssemos vivendo? Como se estivéssemos apenas existindo, no modo piloto-automático.
Como se todas as nossas atitudes fossem previsíveis e motivo para uma grave discussão.
Acho que sou forte apenas quando quero, quando não tenho medo de me machucar. Sou tão frágil. Sou tão forte. Sempre vario entre os extremos. Sou uma eterna metamorfose. Não acredito que eu seja a mesma de alguns minutos atrás. Estou em constante mudança e isso me deixa viva. É uma pena que as pessoas ao meu redor não tenham aprendido isso ainda.
Por isso gosto de escrever. Gosto de ser outra pessoa. Quando estou triste passo meus dias apenas escrevendo. Como se eu pudesse ser outra pesssoa. É como se pudesse mudar o roteiro, como se pudesse ser outro personagem sem ser julgada.

Eternidade

Acordei mais cedo que o normal nessa segunda feira, tive um sonho bom. Eu cavalgava até que cheguei em uma árvore, que fazia muita sombra apesar de ser outono e as folhas estissem caídas. Os raios do Sol me aqueciam e iluminavam tudo ao meu redor, em uma linda tarde. Ele me esperava lá. Como de costume, lia seus livros de romances antigos, medievais e impossíveis. Conversamos e rimos deitados sobre as folhas secas. Levamos os cavalos até o lago para beberem água e nos beijamos. Foi uma tarde maravilhosa, e a finalizamos andando a cavalo e assistindo ao pôr-do-sol, sentindo apenas o aroma das flores do campo e o toque suave das nossas mãos. Acordei.
Enquanto banhava-me, tirei o sorriso bobo do meu rosto, fora apenas um sonho. Quis mostrar para todos ao meu redor o quão feliz estava, mesmo que por dentro estivesse destruída, então passei quase uma hora me arrumando para sair de casa. Comi um croissant, bebi uma xícara de café bem forte e sem açúcar, fumei um cigarro, escolhi um livro. Desci as escadas, pois estava com medo de encontrá-lo no elevador. Resolvi ir para a aula de ônibus, e no caminho lia meu livro, ouvia uma música triste e analisava á todas as pessoas no ônibus. Todos tinham a mesma expressão neutra, cansados pela rotina, tão acostumados a fazer as mesmas coisas que já não viam prazer em nada. Depois da aula, resolvi beber apenas um suco na cantina do campus, pois estava sem fome. E lá eu o vi. Fingimos não nos conhecer. Doeu. Mas meu ego falou mais alto e eu apenas sorri e ele olhou para o chão, para não olhar nos meus olhos. Fumei um cigarro e fui trabalhar. Hoje tive que trabalhar com a turma do 1 ano do Ensino Médio, me estressei com eles, mas mantive meu sorriso, de orelha a orelha inclusive enquanto discutia com um aluno. Voltei pra casa, tomei uma ducha e não me permiti chorar. Saí com meu cachorro e tomei um sorvete, voltei para casa e estudei, comi algo e fui deitar-me. Esta é a pior parte do meu dia, pois eu simplesmente não consigo dormir. Pensei na nossa história, nos nossos erros, nas nossas redenções. Seria melhor ficarmos assim? Cada um seguindo sua vida, destruíndo a si mesmo, clamando por paz nesse silêncio tão gélido? Ou deveríamos tentar mais uma vez, mesmo tendo certeza de que seríamos vítimas do fracasso da mesma rotina ociosa, das mesmas conversas, reclamações, elogios. Não sei, tanto faz. Preferi beber uma garrafa de vinho e dormir á chorar me culpando por meus erros. Acordei assustada, no meio da noite. Eu estava um pouco embrigada ainda, porém sabia o que estava fazendo. Era o meu telefone que tocava, aquela voz me parecia familiar, embora me deixasse terrivelmente assustada. Dizia que no outro dia eu receberia um presente. Ignorei e dormi novamente. Minha terça-feira estava sendo comum e ociosa, até lembrar da ligação que recebi na noite passada enquanto dirigia meu carro. Comecei a ficar assustada. Chegando em casa, o porteiro me entregou um embrulho e disse-me que haviam mandado-me, sem se identificar. No embrulho havia um coração, pulsante, frio. Trazia em sua volta, uma fita com meu nome escrito e um laço. Senti um ódio profundo tomar o meu ser, até que liguei para ele.Ele que me fizera beber para esquecer, me fizera chorar, me arrepender, me fizera mudar. Mas não foi ele quem atendeu o telefone. Era a sua mãe, me informando que ele havia sido encontrado morto, sem o coração. Nas mãos havia o desenho de dois cavalos e um casal. Saí correndo pelos corredores da casa que costumávamos chamar de nossa, e me atirei em nossa cama. Seu cheiro ainda estava nos lençóis e dessa vez não hesitei em chorar. Chorei por horas seguidas, segurando o coração que outrora chamei de meu. Guardei-o em uma caixa, por uns meses. Um certo dia sonhei novamente que cavalgava até ele. Acordei, tomei um banho e vesti o meu melhor vestido. Aquele, vermelho, que me fazia parecer uma mulher de verdade. Tirei o coração da caixa, segurei-o firme e apertei aquele gatilho e dei-me um tiro contra o peito. Acertou o meu coração, que levei para ele. Ele me esperava lá, com três rosas brancas e duas vermelhas. E eu, com um sorriso verdadeiro e o coração na mão. Vivemos juntos para sempre. Quase sempre felizes. Quase sempre vivos. Quase sempre em paz.