domingo, 30 de outubro de 2011

Eternidade

Acordei mais cedo que o normal nessa segunda feira, tive um sonho bom. Eu cavalgava até que cheguei em uma árvore, que fazia muita sombra apesar de ser outono e as folhas estissem caídas. Os raios do Sol me aqueciam e iluminavam tudo ao meu redor, em uma linda tarde. Ele me esperava lá. Como de costume, lia seus livros de romances antigos, medievais e impossíveis. Conversamos e rimos deitados sobre as folhas secas. Levamos os cavalos até o lago para beberem água e nos beijamos. Foi uma tarde maravilhosa, e a finalizamos andando a cavalo e assistindo ao pôr-do-sol, sentindo apenas o aroma das flores do campo e o toque suave das nossas mãos. Acordei.
Enquanto banhava-me, tirei o sorriso bobo do meu rosto, fora apenas um sonho. Quis mostrar para todos ao meu redor o quão feliz estava, mesmo que por dentro estivesse destruída, então passei quase uma hora me arrumando para sair de casa. Comi um croissant, bebi uma xícara de café bem forte e sem açúcar, fumei um cigarro, escolhi um livro. Desci as escadas, pois estava com medo de encontrá-lo no elevador. Resolvi ir para a aula de ônibus, e no caminho lia meu livro, ouvia uma música triste e analisava á todas as pessoas no ônibus. Todos tinham a mesma expressão neutra, cansados pela rotina, tão acostumados a fazer as mesmas coisas que já não viam prazer em nada. Depois da aula, resolvi beber apenas um suco na cantina do campus, pois estava sem fome. E lá eu o vi. Fingimos não nos conhecer. Doeu. Mas meu ego falou mais alto e eu apenas sorri e ele olhou para o chão, para não olhar nos meus olhos. Fumei um cigarro e fui trabalhar. Hoje tive que trabalhar com a turma do 1 ano do Ensino Médio, me estressei com eles, mas mantive meu sorriso, de orelha a orelha inclusive enquanto discutia com um aluno. Voltei pra casa, tomei uma ducha e não me permiti chorar. Saí com meu cachorro e tomei um sorvete, voltei para casa e estudei, comi algo e fui deitar-me. Esta é a pior parte do meu dia, pois eu simplesmente não consigo dormir. Pensei na nossa história, nos nossos erros, nas nossas redenções. Seria melhor ficarmos assim? Cada um seguindo sua vida, destruíndo a si mesmo, clamando por paz nesse silêncio tão gélido? Ou deveríamos tentar mais uma vez, mesmo tendo certeza de que seríamos vítimas do fracasso da mesma rotina ociosa, das mesmas conversas, reclamações, elogios. Não sei, tanto faz. Preferi beber uma garrafa de vinho e dormir á chorar me culpando por meus erros. Acordei assustada, no meio da noite. Eu estava um pouco embrigada ainda, porém sabia o que estava fazendo. Era o meu telefone que tocava, aquela voz me parecia familiar, embora me deixasse terrivelmente assustada. Dizia que no outro dia eu receberia um presente. Ignorei e dormi novamente. Minha terça-feira estava sendo comum e ociosa, até lembrar da ligação que recebi na noite passada enquanto dirigia meu carro. Comecei a ficar assustada. Chegando em casa, o porteiro me entregou um embrulho e disse-me que haviam mandado-me, sem se identificar. No embrulho havia um coração, pulsante, frio. Trazia em sua volta, uma fita com meu nome escrito e um laço. Senti um ódio profundo tomar o meu ser, até que liguei para ele.Ele que me fizera beber para esquecer, me fizera chorar, me arrepender, me fizera mudar. Mas não foi ele quem atendeu o telefone. Era a sua mãe, me informando que ele havia sido encontrado morto, sem o coração. Nas mãos havia o desenho de dois cavalos e um casal. Saí correndo pelos corredores da casa que costumávamos chamar de nossa, e me atirei em nossa cama. Seu cheiro ainda estava nos lençóis e dessa vez não hesitei em chorar. Chorei por horas seguidas, segurando o coração que outrora chamei de meu. Guardei-o em uma caixa, por uns meses. Um certo dia sonhei novamente que cavalgava até ele. Acordei, tomei um banho e vesti o meu melhor vestido. Aquele, vermelho, que me fazia parecer uma mulher de verdade. Tirei o coração da caixa, segurei-o firme e apertei aquele gatilho e dei-me um tiro contra o peito. Acertou o meu coração, que levei para ele. Ele me esperava lá, com três rosas brancas e duas vermelhas. E eu, com um sorriso verdadeiro e o coração na mão. Vivemos juntos para sempre. Quase sempre felizes. Quase sempre vivos. Quase sempre em paz.

Um comentário:

  1. Seguindo de volta *-*
    Parabéns muito bom seu blog e você escreve muito bem :D

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